do lugar dos outros

do lugar dos outros

sábado, 10 de abril de 2010


sabes, mãe. uma asa não deixa de bater
porque cai do corpo de um pássaro.
.
o nome que nos dão, ao nascer,
fica nos retratos, nos envelopes intactos,
nos poemas que hás-de escrever.
.
às vezes, é o medo que escreve,
outras é o vento, quase sempre
é o vento que escreve, mãe,
quase sempre é o medo.
.
um cão em cada dedo - alice macedo campos

quinta-feira, 8 de abril de 2010


Jasão

E que diriam às falésias os barcos arrastados
sem que nenhuma onda viesse, ou vento soprasse,
nem maré crescesse para os libertar?
Diriam: como se corta o mar,
como se fende o destino?
Ao porto a que chegamos, chegamos sem saber.
E agora, que queremos regressar, como se diz o regresso,
quantas sílabas nos cabe inventar?
Diriam.

As falésias são apenas terra nua que fende a noite.
Pode ser que saibam, pode ser que não.

Ardem as trevas e outros lugares - Helena Carvalhão Buescu