
(…)
- Sabes? nós julgamos que somos livres quando a morte nos afasta de alguém cuja presença se tinha tornado demasiado pesada ou opressiva. Mas é outro nada que nos está reservado, quando ficamos. E então talvez percebamos que estamos condenados a não dispor de palavras próprias. Todas as palavras já foram ditas, e o que repetimos não é mais do que as aspirações anteriormente formuladas.
(…)
Há homens cuja natureza não pertence a nenhuma época, é de todas pelo seu singelo amor à liberdade: outro sonho desmedido. E todos os sonhos envolvem riscos e impelem a erros às vezes desnecessártios. Olhas para mim porquê? Essa pureza árida consente ou exprime qualquer forma de julgamento? Fomos derrotados, e então? Recomecemos, talvez sem o alvoroço inicial, talvez com uma tristeza sem indulgência, mas ninguém nem nada nos obriga a renunciar à quimera, à utopia.
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Agora sei que nem a morte consegue separar tudo, assim como a vida poucas coisas desvenda. Temos nós de as descobrir.
Um Homem Parado no Inverno – Baptista-Bastos
1 comentário:
a vida... uma eterna procura.
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