“ Saio deste livro de Rita Cerdeiros com a sensação de que estes nomes cruzados e estes episódios em tessitura mantêm uma dolorosa e sensível relação com a vida. Com a vida de todos nós. Quem lê e quem ama o que lê tem sempre a tineta de procurar referências de autores, de estabelecer paralelismos comparativos entre este e aquele. Em Rita Cerdeiros, neste livro de Rita Cerdeiros, estão, subjacentes, um conhecimento cultural e uma sabedoria das coisas que têm de advir, necessariamente, de encontros e correspondências com a dor e com o júbilo. Todas as personagens de “As Hortênsias Brancas e as Bicicletas” relevam de contradições por vezes dilacerantes, mas, sem excepção, há nelas uma nota comum: a procura da felicidade.
Com extremo pudor, Rita Cerdeiros não declama essa procura: sugere-a; no-lo diz que a condição humana tem como objectivo ser feliz e que o seu trajecto é a história infindável, e nunca cumprida, desse desejo.
O eu permanentemente exposto neste belíssimo romance não constitui um mero estratagema literário; é, ceio, a possibilidade oferecida de o texto não tombar num fácil sentimentalismo derrotista. Será um livro triste? Talvez. E nesse registo está, eventualmente, a sua componente mais importante. Melhor do que ninguém disse-o, num verso admirável, Carlos de Oliveira: “A tristeza é o vinho da vingança.” Rita Cerdeiros não opõe, umas contra as outras, as personagens e os sentimentos que de elas evolam e evoluem. O texto fala, mansamente, discretamente, em surdina, nas razões poderosas do coração, nas tremendas variações de sentido, num universo de imagens forçosamente indiciário de certos extractos sociais.
Gosto muito deste livro. Pelos motivos aduzidos e, também, porque segue o princípio estético que recusa a arte como instrumento de piedade ou de clemência. Porque recusa a arte, neste caso a literatura, como um objecto útil com objectivos de utilidade. São retratos interiores, distorcidos e erectos, claros e opacos, que funcionam como medianeiros de um particular sentido concreto.
Depois, “As Hortênsias Brancas e as Bicicletas” tratam o leitor como adulto lúcido e sensível. Quero dizer: fornece ao leitor a ampla possibilidade de, ele próprio, reconstruir o texto. Porque cada leitor e todos os leitores estão nos livros. Nos livros de qualidade, como é o caso.”
Baptista-Bastos
Com extremo pudor, Rita Cerdeiros não declama essa procura: sugere-a; no-lo diz que a condição humana tem como objectivo ser feliz e que o seu trajecto é a história infindável, e nunca cumprida, desse desejo.
O eu permanentemente exposto neste belíssimo romance não constitui um mero estratagema literário; é, ceio, a possibilidade oferecida de o texto não tombar num fácil sentimentalismo derrotista. Será um livro triste? Talvez. E nesse registo está, eventualmente, a sua componente mais importante. Melhor do que ninguém disse-o, num verso admirável, Carlos de Oliveira: “A tristeza é o vinho da vingança.” Rita Cerdeiros não opõe, umas contra as outras, as personagens e os sentimentos que de elas evolam e evoluem. O texto fala, mansamente, discretamente, em surdina, nas razões poderosas do coração, nas tremendas variações de sentido, num universo de imagens forçosamente indiciário de certos extractos sociais.
Gosto muito deste livro. Pelos motivos aduzidos e, também, porque segue o princípio estético que recusa a arte como instrumento de piedade ou de clemência. Porque recusa a arte, neste caso a literatura, como um objecto útil com objectivos de utilidade. São retratos interiores, distorcidos e erectos, claros e opacos, que funcionam como medianeiros de um particular sentido concreto.
Depois, “As Hortênsias Brancas e as Bicicletas” tratam o leitor como adulto lúcido e sensível. Quero dizer: fornece ao leitor a ampla possibilidade de, ele próprio, reconstruir o texto. Porque cada leitor e todos os leitores estão nos livros. Nos livros de qualidade, como é o caso.”
Baptista-Bastos
As Hortênsias Brancas e as Bicicletas - Rita Cerdeiros
1 comentário:
Também gosto muito deste livro. Foi buscando pelo nome de rita cerdeiros que dei com este blogue.
Este livro acompanha-me desde o outouno de 2003.
Tem descrições de personagens reais, poéticas e assombrosas parecenças com situações que vivi.
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