
Sim, este romance poderia muito bem ser essa visita guiada… se antes de mais não fosse a evocação daquelas vidas jovens que, no momento de tomarem posse de si e da terra, já lá na colónia, face à monstruosidade insensível do Pacífico e à transparência mesquinha das suas existências de «brancos pobres» sem horizontes, mais não possuem entre mãos e no corpo do que a raiva surda, que só jovens que batam com a cabeça contra um muro tão duro e tão pouco sólido como o Pacífico podem conhecer, uma raiva que é surda porque não há onde nem a quem reclamar contra a fraude.
Sequência a sequência, neste seu primeiro grande romance, Marguerite Duras dá-nos – como quem recusa a perda dos sonhos de amor e vida dos seus anos juvenis na Indochina e precisasse de os contar, lembrando-se sempre de mais e mais pormenores, mais factos à medida que o passado se perde, para que no fim haja aquilo a que se chama o presente da memória, o presente do passado -, num fundo tropical de noites, plantações, dinheiro, bailes, álcool, com um gira-discos a tocar a Ramona, enquanto um diamante pode ser ainda um último fôlego, os encontros dos desejos com os corpos, ou tão só a poesia do regresso à ordem natural das coisas».
Uma Barragem Contra o Pacífico, de Marguerite Duras
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