do lugar dos outros

do lugar dos outros

sábado, 22 de dezembro de 2007

«O fim dos dias é não fazer nada. A inércia contemplativa é preferível a tudo. Viva o subterrâneo! Conquanto eu inveje o homem normal, até à última gota da minha bílis, quando o vejo tal como é, renuncio a ele (embora não deixe de o invejar). Não! Não! O subterrâneo vale mais! Lá, ao menos, pode-se… cá estou eu a mentir outra vez! E minto porque sei, tão claramente como «dois e dois são quatro», que não é o subterrâneo que vale mais, mas qualquer outra coisa a que aspiro, sem conseguir descobrir. Vá para o inferno o subterrâneo!
Se eu pudesse ao menos acreditar numa única palavra das que estou escrevendo! Juro que não creio em nada, nada do que estou afirmando. Ou antes, talvez acredite um bocadinho, mas sinto no entanto que minto como um dentista.
- Mas então para que é que escreveste isto tudo? Perguntam vocês.
Gostava de saber o que me diziam se eu os fosse visitar ao subterrâneo onde tinham passado quarenta anos… pode-se lá deixar um homem sozinho9 e sem fazer nada!»


In A Voz Subterrânea, de Dostoïevsky

1 comentário:

pin gente disse...

afinal, o fim dos dias sempre é fazer alguma coisa...