do lugar dos outros

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segunda-feira, 14 de abril de 2008






















O amor eterno

É quando a morte salta de dentro da árvore,
como o pássaro inesperado da noite, que recordas
o que viveste. Não te prendas à respiração.
ao contar do pulso, às pequenas matemáticas de que
o tempo de homem depende. A memória que deixares
está para além dele; e algo de ti permanecerá,
mesmo que o não saibas, nalgum canto secreto,
no riso ou no choro de quem te lembrar.

Ao teu lado, enquanto as raízes da árvore
tomam conta do teu peito, todas as sombras
se juntam. No entanto, é com essa que te amou,
ou com o riso límpido que te inundava os
ouvidos, com a primeira luz de uma antiga
manhã, que podes vencer a noite. Mesmo
que os teus olhos se fechem, ou que uma
súbita brancura se apodere da tua alma.

Ela seguir-te-á no corredor de areia onde
as últimas gaivotas esperam a maré; e
diz-te: «porque perdeste a tua vida? A
que inúteis deveres cedeste a felicidade? Por
que não me seguiste, até ao leito do rio
onde os amantes se juntam?» a ausência das
suas mãos desce pelo teu corpo, nesse
último instante, como um áspero vento.

Cartografia de Emoções - Nuno Júdice

2 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

emocionada.....




deixo um abraço.
forte.

pin gente disse...

que bonito... é isso mesmo... a que "inúteis" deveres cedemos a felicidade?