do lugar dos outros

do lugar dos outros

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Porém, o que dói é a ausência de dor na face dos
mortos: hirtos na fina porcelana do seu
rosto, rígidos no vento da sua pedra.
Buracos negros as suas pálpebras ante o
choro das mulheres, a devastação dos filhos.
Sentissem eles as pulsações dos ventos,
a inquietação dos cães, a ruína dos
canteiros, o abandono dos trigos e das vinhas!
Se eles soubessem quanto apascentamos
a memória da sua transumância pelos
lugares que pisaram, e como se lhes
agiganta a cera das figuras, depois da partida
dos seus corpos minguados!
Mas nenhum bálsamo nos dão em troca
de tudo o que lhes damos; tudo se perde
no gesto imóvel, para sempre desenhado.
Esse silêncio compulsivo é o justo preço a pagar
pela mais pura e absurda decantação da alma.

O nome dos Mortos seguido de Biografia das Sombras – Fernando de Castro Branco

2 comentários:

pin gente disse...

será o egoísmo de sofrermos sózinhos?
"o mal é de quem fica!" - diz o povo
saberão do bem?

rogerio disse...

ola eu so rogerio.mbangu gostei muito de do teu blog por favor me contacta pelo meu blog roerio,mbangu.blogsport.com o pelo meu email ruly.star@yahoo.fr