do lugar dos outros

do lugar dos outros

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Observas o rosto hirto na vidraça
e respirando fundo sabes: a luz
alonga os traços como um remorso –
porque tudo é nosso e doutrem.
Roubas e roubam-te, do mais
à margem te mantêm, ou a vau.
Desmunido. Que cem anos
não confortam a cova de um dente,
nem refreiam o susto de quando
o silêncio bate portas – é coisa
pública. Veja-se o caso das mãos:
cinco dedos são poucos. Uma
redige o elo de solidão e já outra
congela o sangue nas torneiras.

António Cabrita – Carta de Ventos e Naufrágios

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