do lugar dos outros

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sexta-feira, 17 de julho de 2009



EMBRIAGA-TE

Devemos andar sempre bêbedos. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.»


Charles Baudelaire – O Spleen de Paris (pequenos poemas em prosa)


3 comentários:

José Carlos Brandão disse...

Gosto muito desse poema. E, como sou ambicioso, embriago-me com vinho, poesia e mulheres.

Beijos.

Anónimo disse...

eu também:)))))))


a.m.

Carlos Ramos disse...

È grande o mestre Baudelaire. Parabens pela escolha. Acertadissima...